Olhares dos jovens do quilombo Ivaporunduva e da comunidade caiçara Marujá sobre a vida, trabalho e cultura.
Orientador: Lineu Norio Kohatsu
Supervisora: Elisandra Carina Amendola
Resumo
O presente projeto faz parte do macroprojeto “EXPERIÊNCIAS DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO, BRASIL” que será realizado dentro do Programa de Pré-Iniciação Científica da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), por meio de parceria entre o Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP e a Escola Técnica Engenheiro Narciso de Medeiros (Etec/Iguape) do Centro Paula Souza.
O subprojeto visa estimular o protagonismo juvenil e promover discussões e reflexões acerca dos modos de vida na comunidade caiçara no Marujá, município de Cananéia (SP) e no quilombo Ivaporanduva, município de Eldorado (SP), das expectativas dos jovens em relação aos estudos (ensino médio, técnico e superior), das perspectivas de trabalho e das experiências e necessidades de cultura e lazer. Será proposto o registro fotográfico da comunidade pelos próprios jovens com o objetivo de promover uma discussão sobre o modo como se auto-representam e como estabelecem uma interlocução com “o olhar de fora”, assim problematizar as possibilidades e/ou limites na relação entre as tradições da comunidade e o uso de novas tecnologias e correlacioná-las com as atividades de turismo de base comunitária. Pretende-se também promover a interdisciplinalidade nos cursos da ETEC, apresentando aos discentes os métodos de pesquisa científica.
Objetivos:
- Identificar a visão e perspectivas dos jovens do quilombo Ivaporunduva e da comunidade caiçara Marujá sobre a vida, trabalho e cultura;
- Investigar se a visão e perspectivas dos jovens do quilombo Ivaporunduva e da comunidade caiçara Marujá sobre a vida, trabalho e cultura possui relação com o turismo de bases comunitária da comunidade e como esta relação aconteceu;
- Estimular o protagonismo juvenil e promover discussões e reflexões acerca dos modos de vida na comunidade de origem, das expectativas dos jovens em relação aos estudos (ensino médio, técnico e superior), das perspectivas de trabalho e das experiências e necessidades de cultura e lazer;
- Realizar o registro fotográfico da comunidade pelos próprios jovens com o objetivo de promover uma discussão sobre o modo como se auto-representam e como estabelecem uma interlocução com “o olhar de fora”, assim problematizar as possibilidades e/ou limites na relação entre as tradições da comunidade e o uso de novas tecnologias.
- Promover a interdisciplinalidade dos cursos da ETEC, bem como a integração dos docentes na gestão de projetos;
- Despertar o interesse dos discentes pela pesquisa científica.
Justificativas:
Desde a década de 1980, o Vale do Ribeira tem atraído turistas, vindos na maioria de São Paulo (capital, ABC e interior), Curitiba e de outros países. O turismo está concentrado em alguns municípios da serra (Eldorado, Iporanga, Apiaí) e do litoral (Cananéia, Ilha Comprida, Iguape). Atualmente, são comuns na região excursões de escolas para estudo do meio e da diversidade sociocultural, grupos de terceira idade, de pesca e de Espeleologia (estudo de cavernas). Na região, a maioria das festas tem caráter religioso.
A partir da década de 1990 algumas ações de incentivo ao turismo foram iniciadas na região, como a Agenda de Ecoturismo do Vale do Ribeira (Governo do Estado), o Pólo Ecoturístico do Lagamar (Fundação SOS Mata Atlântica) e o Programa Mata Atlântica (Secretaria do Meio Ambiente do Estado). Também é importante citar iniciativas de organizações da sociedade civil voltadas para capacitação de monitores ambientais com vistas à ordenação da visitação dos turistas nas Unidades de Conservação. Tais iniciativas aliadas à capacidade de auto-organização e empreendedorismo local contribuíram para o surgimento de experiências de turismo de base comunitária protagonizadas por ribeirinhos, caiçaras, quilombolas e índios guaranis. É fundamental conhecer essas experiências, seus acertos e desafios, sua viabilidade do ponto de vista da realidade da comunidade local e do mercado turístico, sua contribuição para o fortalecimento dos processos sociais de enraizamento nas comunidades.
O presente projeto faz parte do macroprojeto “EXPERIÊNCIAS DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO, BRASIL” que será realizado dentro do Programa de Pré-Iniciação Científica da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), por meio de parceria entre o Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP e a Escola Técnica Engenheiro Narciso de Medeiros (Etec/Iguape) do Centro Paula Souza. O foco deste projeto será identificar a visão e perspectiva dos jovens do quilombo Ivaporunduva e da comunidade caiçara Marujá sobre a vida, trabalho e cultura. A partir do levantamento desta visão e perspectiva será realizada uma avaliação para verificar se a mesma possui relação com o Turismo de Base Comunitária. Este estudo será importante para identificar se as perspectivas dos jovens sobre vida trabalho e cultura foram influenciadas pelas experiências de turismos desenvolvidas na comunidade e que impacto elas tem sobre os jovens. A partir da análise destas informações será possível propor alternativas para as atividades turísticas da comunidade.
A primeira fase do projeto, na qual será realizado um levantamento documental e bibliográfico sobre as comunidades e os temas Organizações Comunitárias, Vale do Ribeira e Turismo de Base Comunitária, será a base para os discentes da ETEC se aprofundarem no tema. Na segunda etapa, serão realizadas observação de campo nas comunidades, oficinas e entrevistas, onde os alunos obterão dados em campo. A realização deste processo proporcionará o alcance dos demais objetivos, pois os dados coletados serão sistematizados e será possível identificar as lições aprendidas com as experiências das comunidades e propor soluções e recomendações para possíveis impactos negativos detectados. A apresentação dos resultados do projeto para a comunidade, junto com recomendações ou sugestões da equipe, ajudará a promover o protagonismos juvenil, pois destacará o potencial e a importância do jovem estimulando-os a contribuir com o desenvolvimento da Comunidade.
A execução do macroprojeto proporcionará a interdisciplinalidade e a interação entre docentes e discentes de diversos cursos da ETEC, portanto ele será executado por pessoas que possuem olhares distintos sobre um mesmo tema. E também, como muitos discentes da ETEC estão inseridos em comunidades que desenvolvem atividades de Turismo de Base Comunitária esta experiência poderá despertar neles o interesse pelas atividades da sua comunidade estimulando-os a tornarem-se protagonistas na mesma.
O contato com métodos de pesquisa e com a Universidade de São Paulo poderá despertar nos discentes da ETEC a vontade de continuar estudando e vislumbrar a possibilidade de trabalhar com pesquisa científica nos diversos campos do saber. Assim, serão alcançados os objetivos do Programa de Pré-Iniciação Científica, que apóia projetos de pesquisa desenvolvidos nas diferentes unidades da USP, em parceria com escolas da rede pública de ensino médio e técnico. As visitas realizadas ao Campus da USP, em São Paulo, auxiliarão a definição das áreas de interesse profissional dos discentes da ETEC e aproximarão a Universidade do Sistema de Ensino Médio e Técnico. Além da formação complementar, os discentes da ETEC receberão uma bolsa auxilio para cobrir os custos do projeto.
Metodologia:
O trabalho será iniciado com a realização de um estudo descritivo do tipo qualitativo planejado dividido em duas etapas. Na primeira etapa será realizado um levantamento documental e bibliográfico sobre os temas Organizações Comunitárias, Vale do Ribeira, Turismo de Base Comunitária com foco na comunidade caiçara Maruja e quilombo Ivaporanduva e sobre a atuação dos jovens nestas comunidade. Serão utilizados como material bibliográfico cartas, memorandos, autobiografias, jornais, revistas, livros, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão, catálogos, estatísticas e arquivos. O levantamento bibliográfico sobre os temas citados, por sua vez, priorizará a consulta ao acervo das bibliotecas dos municípios onde estão localizadas as comunidades e consulta as bases de dados de bibliotecas da USP e da PUC/SP e as bases de dados que reúnem periódicos científicos como Scielo e Lilacs. A análise dos documentos e da bibliografia selecionada incluirá a realização de catalogação e elaboração de resumos e resenhas. Nesta fase o discente será estimulado a construir seu conhecimento auxiliado pelo docente.
Na segunda etapa da pesquisa será realizada observação de campo nas duas comunidades, entrevistas e uma oficina com os jovens. Por meio da observação de campo pretende-se levantar informações in loco sobre: as condições de vida nas comunidades (saneamento, moradia, alimentação, transporte); a presença de equipamentos públicos (postos de saúde, escolas); as atividades desenvolvidas no “trabalho” ou atividades executadas para gerar rendas ou alimentos; as formas de lazer e sociabilidade e de interação entre morador local e turista. Na oficina os jovens das comunidades receberão material para desenhar qual a sua visão de vida, trabalho e cultura; sendo que eles realizarão esta atividade antes da entrevista para que seja possível observar o que eles entendem por vida, trabalho e cultura. Em seguida, os jovens serão divididos em grupos e juntos deverão desenhar qual a visão do grupo sobre vida, trabalho e cultura. Também será proposto o registro fotográfico da comunidade pelos próprios jovens com o objetivo de promover uma discussão sobre o modo como se auto-representam e como estabelecem uma interlocução com “o olhar de fora”, assim problematizar as possibilidades e/ou limites na relação entre as tradições da comunidade e o uso de novas tecnologias. As entrevistas, por sua vez, serão feitas com os jovens das comunidades, onde pretende-se levantar informações sobre: o perfil dos moradores (faixa etária, sexo, cor/raça, escolaridade, situação familiar, profissão), seus costumes e valores com relação a vida, trabalho e cultura, as expectativas em relação ao turismo e os fatores que influenciam na ocorrência da atividade turística de forma satisfatória ou não na comunidade. Por meio das entrevistas e da oficina será possível verificar se e em que medida as experiências de turismo de base comunitária envolvem e sustentam processos de enraizamento, mostrando se o desenvolvimento desta atividade econômica estimula ou não a organização de projetos profissionais comprometidos com a preservação da cultura local e a formação de uma identidade profissional engajada politicamente na construção de um turismo sustentável. O quadro I mostra o número de entrevistas que serão realizadas. Antes da realização destas etapas os alunos passarão por capacitações oferecidas pelo Instituto de Pscicologia da USP.
Quadro I- Número de entrevistas que serão realizadas no projeto.
Comunidade |
Nº de moradores |
Nº de entrevistas com jovens |
Marujá |
200 |
20 |
Ivaporanduva |
320 |
32 |
TOTAL |
520 |
52 |
Os entrevistados serão esclarecidos dos objetivos e procedimentos do estudo, e caso aceitem participar, assinam um termo de consentimento em duas vias, uma delas entregue ao entrevistado e a outra arquivada pelo entrevistador (aluno bolsista de pré-iniciação científica). No termo constam os direitos do entrevistado em relação ao material coletado como a garantia de sigilo e anonimato. O projeto será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPH) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Após está etapa o grupo de discentes da ETEC sistematizará os dados obtidos e verificará se a visão e perspectivas dos jovens da comunidade sobre vida, trabalho e cultura possuem relação com o turismo de base comunitária. Em seguida, este material será redigida na forma de relatório e painéis que serão utilizados para apresentar os resultados na Universidade de São Paulo, nas comunidades e na Etec. Com a apresentação dos resultados nas comunidades espera-se motivar os jovens e mostrar que eles podem ser os protagonistas das mesmas.
Para auxiliar os alunos bolsistas serão realizadas reuniões semanais com os mesmos para supervisionar e orientar as atividades dos mesmos. Estas reuniões acontecerão fora do horário de aula do aluno. Serão orientados 8 alunos bolsistas. Além desta orientação e supervisão, mensalmente, será realizada a análise dos documentos elaborados pelos 8 alunos bolsistas onde os mesmos receberão um parecer. Para realizar as análises serão necessárias 8h mensais. A reunião para orientação dos alunos acontecerá nas terças-feiras e a análise dos documentos será realizada nas duas últimas segundas-feiras de cada mês.
Analisando este projeto dentro do macroprojeto “EXPERIÊNCIAS DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO, BRASIL”, será possível praticar a interdisciplinalidade dos cursos da ETEC, bem como a integração dos docentes na gestão de projetos, pois docentes de diferentes cursos estarão executando microprojetos em equipes compostas por discentes de vários cursos e os professores da Universidade Estadual de São Paulo.
A execução do projeto também despertará o interesse do discente pela pesquisa científica, pois durante o processo eles utilizarão várias metodologias científicas.